Em Córdoba perdi meu celular enquanto me aventurava com o cara de 30 anos aposentado. Perdi minha pulseira nova de 20 pesos comprada na Feria de los artesanos e também acabei perdendo a passagem de volta para o Brasil, concluindo finalmente que eu e o tempo não somos amigos.
Essa coisa de limitação geográfica me coloca sentada na sala da El Chaco 54, sozinha, chorando pelas coisas que ainda não chorei. Ando emotiva. Talvez pela proximidade da TPM, talvez por ainda não ter recebido a carta que espero há cinco dias, talvez porque Paolo e Mariah saíram para trabalhar na mesma hora em que tive uma crise de sanidade.
Há tempos não experimentava essa safra de dor. Maldito vazio. Nada de solidão. Também não é solitude. A música parece triste e pareço dividida entre o que sou e o que preciso ser. Hoje não sei se quero ser tal qual a moça que conheci outro dia, a paulista que não falava português e esbarrou em mim quando perambulava bêbada de samba e Quilmes. Hector a seguia e era aparentemente normal, mas Lua com sua boina vermelha quase cinematográfica não parecia ser. Sentados na calçada, Mariah, Lua, seu companheiro argentino e eu demos início a 20 minutos de uma conversação pouco ortodoxa. Esses poucos e improváveis minutos me divertiram mais que Heleno em nosso primeiro último encontro. Não sei o que vem depois de uma espécie de "Nice to meet you.quer comprar maconha?", mas aquela foi a noite mais louca dos últimos tempos. Lua deve ser uma espécie de duende que te aborda oferecendo um minutinho de relaxamento.
Não fosse Mariah comentando flashs da noite anterior, realmente pensaria que alucinei depois de estar momentaneamente apaixonada pelo cozinheiro que não me deu bola. E agora também lembro de ter passado alguns minutos na cozinha do bar descascando batatas por diversão enquanto alguma outra pessoa fritava algo - o que explica o péssimo cheiro do meu vestido quando acordei.
Mas hoje, nem essa lembrança vai me animar. Hoje tudo que sinto é saudade da casa que decorei, do gato amado que dorme em cima da minha barriga, do pai, da madastra, da irmã caçula que me revista quando me vê. Hoje sinto saudade do meu melhor amigo cabeludo e advogado, das ruas estreitas de alegria que frequento, dos amigos, do cachorro quente vegetariano e das pessoas que não sei se um dia vou rever. Desde que cheguei nessas terras argentinas, hoje é o primeiro dia que não estou onde queria estar.
Por Ana Rivelles
sábado, 7 de maio de 2016
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
No chão da sala
Estendido no chão da sala de estar um corpo quase inanimado, inebriado de solidão.
O peito rasgado em sangue, a camisa a flor da pele amarelada. Seus pés em movimentos dançados e entrelaçados com a nostalgia da tarde que se finda no fundo de um copo quase vazio.
As xícaras estão frias e o chá que lá havia esfriou quase que totalmente. Uma luz clara toca a janela fechada e ninguém viu o sol naquelas últimas semanas.
No chão alguns livros abertos. Na vitrola um disco riscado e uma agulha quebrada. No sofá o cobertor cheirando a cigarro e vinho barato.
No mês passado havia duas taças – uma foi quebrada pela última pessoa distinta que por lá passou. A taça que sobrou guardou algumas poucas cinzas dos cigarros fumados e esquecidos desde então.
O despertador parece tocar, mas não há porquê acordar, não há para quem acordar. O quarto cinza guarda sapatos vermelhos de dois pés cinzentos que dançavam no portão. Não guarda lembranças de motivos de alegria. Não guarda nada que não seja o veneno que rasga o tempo escasso de outrora.
Na casa ao lado três pessoas comem pão com queijo, margarina e de lá vem o cheiro de café recém passado e bolo quente. Lá ninguém sabe que o corpo permanece estendido, rasgado, dolorido, com o peito aberto coberto de sangue e frustração.
Aquele corpo não possui família, amigos ou um número de telefone. Não, ele não possui nada e nada o possui. Nunca mais sentiu o peito arder em cores. Nunca mais sentiu a brisa das manhãs de verão. Nunca mais pensou em ter algo para fazer fora dali. Foi esquecido e esqueceu qualquer coisa que não seja sua própria embriaguez calada e acorrentada a mágoa que lhe envelheceu.
Por Ana Rivelles
O peito rasgado em sangue, a camisa a flor da pele amarelada. Seus pés em movimentos dançados e entrelaçados com a nostalgia da tarde que se finda no fundo de um copo quase vazio.
As xícaras estão frias e o chá que lá havia esfriou quase que totalmente. Uma luz clara toca a janela fechada e ninguém viu o sol naquelas últimas semanas.
No chão alguns livros abertos. Na vitrola um disco riscado e uma agulha quebrada. No sofá o cobertor cheirando a cigarro e vinho barato.
No mês passado havia duas taças – uma foi quebrada pela última pessoa distinta que por lá passou. A taça que sobrou guardou algumas poucas cinzas dos cigarros fumados e esquecidos desde então.
O despertador parece tocar, mas não há porquê acordar, não há para quem acordar. O quarto cinza guarda sapatos vermelhos de dois pés cinzentos que dançavam no portão. Não guarda lembranças de motivos de alegria. Não guarda nada que não seja o veneno que rasga o tempo escasso de outrora.
Na casa ao lado três pessoas comem pão com queijo, margarina e de lá vem o cheiro de café recém passado e bolo quente. Lá ninguém sabe que o corpo permanece estendido, rasgado, dolorido, com o peito aberto coberto de sangue e frustração.
Aquele corpo não possui família, amigos ou um número de telefone. Não, ele não possui nada e nada o possui. Nunca mais sentiu o peito arder em cores. Nunca mais sentiu a brisa das manhãs de verão. Nunca mais pensou em ter algo para fazer fora dali. Foi esquecido e esqueceu qualquer coisa que não seja sua própria embriaguez calada e acorrentada a mágoa que lhe envelheceu.
Por Ana Rivelles
Solidão lhe toca a alma
Foi-se o tempo em que nada havia porta afora.
Foi-se o tempo dos sons de violão – música da melancolia nobre que iluminava as sarjetas por onde andavam.
Tudo se finda sem que ele perceba e ela se vai – pouco a pouco se vai.
Por Ana Rivelles
Foi-se o tempo dos sons de violão – música da melancolia nobre que iluminava as sarjetas por onde andavam.
Tudo se finda sem que ele perceba e ela se vai – pouco a pouco se vai.
Por Ana Rivelles
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
"Quando a última imobiliária explodir sobre os escombros do último banco, o mundo será um lugar decente"
Há dois meses recebemos a notícia de que a sala de nosso escritório foi vendida.
Iniciou-se a saga.
Como locar um imóvel em Curitiba?
Pois bem, o primeiro passo é entrar em todos os sites de imobiliárias possíveis. Após isto, há um link (nem sempre)para visualizar as fotos do tão sonhado seu espaço e entrar em contato com as ditas-cujas para dar início a burocracia.
Vocês tem fiador? Não.
Vocês tem um milhão de dólares? Hum... não.
A mãe de vocês pode ficar como garantia no caso de não pagarem o aluguel? Olha... acho que não, né.
Humm... Esses são os requisitos básicos para locar em Curitiba...
E a Lei de Locação serve pra que?
Art. 38. A caução poderá ser em bens móveis ou imóveis.
(...)
§ 2º A caução em dinheiro, que não poderá exceder o equivalente a três meses de aluguel, será depositada em caderneta de poupança, autorizada, pelo Poder Público e por ele regulamentada, revertendo em benefício do locatário todas as vantagens dela decorrentes por ocasião do levantamento da soma respectiva.
Até aí tudo certo. Conseguimos a caução no valor de três aluguéis e uma verdadeira santa que dospinibilizasse o nome para ser a Locatária. Porém, quando estávamos a um passo de assinar o contrato, recebemos mais uma doce surpresa: Garantir três meses de aluguel não é o suficiente. Precisa garantir DOZE/ UM ANO INTEIRO!
Pergunta: Moço, mas a Lei de Locação é clara nesse aspecto e vocês só podem pedir TRÊS meses de caução.
Resposta: Pois é... a Lei até diz isso, mas cada imobiliária faz como acha melhor.
Pergunta: Por que é necessário garantir um ano de aluguel, se no caso de não pagarmos podemos ser despejados em um mês?
Resposta: (Silêncio Total)
Pergunta: Você pode documentar isso através do nosso e-mail?
Resposta: Pra que?
Pergunta: Bem, como a lei não serve pra nada aí nesse espaço, queremos que tudo fique documentado...
Resposta: Ah, claro.
Permanecemos sentados esperando.
Por Ana Rivelles e Juliano Torres
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Burrocracia
(Nota prévia - pedimos licença aos donos do poder. Precisamos demais desabafar).
Quanta burrocracia... A pergunta é: qual a motivação pra tanta burrice? As “Vossas Excelências” que estão sentadas em confortáveis cadeiras por aí parecem usar algum tipo de venda que as impeça de ver a realidade.
Nos últimos dias constatamos alguns fatos que nos fazem desacreditar (ainda mais) que a justiça no Brasil seja realmente... efetiva (quase dissemos "justa", mas a palavra é meio forte - afinal, como já disse o Saramago, em outro contexto, "nada há que seja verdadeiramente livre nem suficientemente democrático").
Um nobre magistrado – desses tantos competentes que temos – parou um processo porque o nome do autor estava escrito errado na sua certidão de casamento. Por uma letra. Detalhe: na certidão havia o número do RG e do CPF do autor – o que permitia facilmente que ele, ilustríssimo , constatasse que se tratava da mesma pessoa. Ah! Mas sem problemas... afinal de contas o cara pode ficar esperando por tempo indeterminado até resolvermos essa picuinha. Além disso, "segurança jurídica" nunca é demais - pensem, o cara poderia estar tentando divorciar outra pessoa (talvez um rival romântico, quase homônimo).
Quem dera esse mesmo excesso de zelo fosse adotado em investigações policiais ou no exame de títulos de propriedade grilados (ops, deliramos, perdões).
Em outro processo, um outro nobre julgador despachou afirmando que somente concederia Justiça Gratuita se o advogado do processo assinasse uma declaração na qual constasse que trabalharia de graça... Pois é... faltou alguém dizer para esse magistrado tão sábio que muita, mas muita gente mesmo, deixa de exercer seus direitos de acesso a Justiça devido às altas custas processuais (e no Paraná, elas são as mais altas). Azar. Se pagar, anda. Quem não paga, espera. É como a fila do SUS em certas localidades (só que, nesse caso, a discriminação é ilegal. Ponto pra Reforma Sanitária, zero pra nós, raposas engomadas e elefantes brancos).
E olha que a gente às vezes até trabalha de graça - mas não no que Vossa Excelência quer, e isso talvez incomode. Por isso Vossa Excelência quer que a gente viva de vento, enquanto o cliente vê navios. Paisagem um tanto poética - talvez ainda mais pra quem ganhe uns tantos paus por mês.
Os poucos e bons que nos perdoem. Não nos passa pela cabeça sermos juízes – talvez porque gostemos de ver "as coisas funcionarem" e talvez porque acreditemos que a justiça deva ser realmente justa. Mas - já disseram até sábios do ocidente - o que existe para não funcionar, sendo disfuncional, funciona, e ademais é justo dizer que a justiça, justamente ela, é também uma coisa relativa (já se disse que houve "guerras justas")
Acreditamos que juízes, em suas provas concursais, sejam também avaliados por quanto tempo conseguem atravancar um processo. Celeridade processual então... nem pensar!
Ah, se fôssemos contar todas as histórias de juízes iguais a esses, para os quais tivemos o desprazer de peticionar. Seriam páginas e páginas de histórias inacreditáveis. Os fóruns e tribunais, não poucas vezes, se transfiguram em verdadeiros circos de horrores. E estamos a mercê de pessoas que parecem ter se formado por correspondência na Faculdade da Injustiça.
Pensando bem, do jeito que a coisa anda, talvez tenha cusinho pra isso também. Telepresencial, é claro.
De repente falte o que fazer nos fóruns, as cadeiras já não sejam tão confortáveis, talvez ainda tenham cortado os jogos do computador, ou quem sabe ganhar dez contos por mês tenha tornado a vida dos ilustríssimos um tanto quanto monótona... Bom, se o problema for falta do que fazer, poderão ir lá em minha casa dar uma lavada nas janelas – afinal de contas, para mim, mera trabalhadora, pagar um profissional que faça a minha faxina já está saindo um pouco caro para o meu baixo orçamento.
Pelo menos lavando janelas, o único erro idiota que cometerão será deixá-las com manchas...
***
(A)MORAL DA HISTÓRIA
Um dia, os juízes serão sérios, os processos farão sentido e Kafka se mostrará errado.
Ou não.
Por Ana Cristina Rivelles e Juliano Torres
Quanta burrocracia... A pergunta é: qual a motivação pra tanta burrice? As “Vossas Excelências” que estão sentadas em confortáveis cadeiras por aí parecem usar algum tipo de venda que as impeça de ver a realidade.
Nos últimos dias constatamos alguns fatos que nos fazem desacreditar (ainda mais) que a justiça no Brasil seja realmente... efetiva (quase dissemos "justa", mas a palavra é meio forte - afinal, como já disse o Saramago, em outro contexto, "nada há que seja verdadeiramente livre nem suficientemente democrático").
Um nobre magistrado – desses tantos competentes que temos – parou um processo porque o nome do autor estava escrito errado na sua certidão de casamento. Por uma letra. Detalhe: na certidão havia o número do RG e do CPF do autor – o que permitia facilmente que ele, ilustríssimo , constatasse que se tratava da mesma pessoa. Ah! Mas sem problemas... afinal de contas o cara pode ficar esperando por tempo indeterminado até resolvermos essa picuinha. Além disso, "segurança jurídica" nunca é demais - pensem, o cara poderia estar tentando divorciar outra pessoa (talvez um rival romântico, quase homônimo).
Quem dera esse mesmo excesso de zelo fosse adotado em investigações policiais ou no exame de títulos de propriedade grilados (ops, deliramos, perdões).
Em outro processo, um outro nobre julgador despachou afirmando que somente concederia Justiça Gratuita se o advogado do processo assinasse uma declaração na qual constasse que trabalharia de graça... Pois é... faltou alguém dizer para esse magistrado tão sábio que muita, mas muita gente mesmo, deixa de exercer seus direitos de acesso a Justiça devido às altas custas processuais (e no Paraná, elas são as mais altas). Azar. Se pagar, anda. Quem não paga, espera. É como a fila do SUS em certas localidades (só que, nesse caso, a discriminação é ilegal. Ponto pra Reforma Sanitária, zero pra nós, raposas engomadas e elefantes brancos).
E olha que a gente às vezes até trabalha de graça - mas não no que Vossa Excelência quer, e isso talvez incomode. Por isso Vossa Excelência quer que a gente viva de vento, enquanto o cliente vê navios. Paisagem um tanto poética - talvez ainda mais pra quem ganhe uns tantos paus por mês.
Os poucos e bons que nos perdoem. Não nos passa pela cabeça sermos juízes – talvez porque gostemos de ver "as coisas funcionarem" e talvez porque acreditemos que a justiça deva ser realmente justa. Mas - já disseram até sábios do ocidente - o que existe para não funcionar, sendo disfuncional, funciona, e ademais é justo dizer que a justiça, justamente ela, é também uma coisa relativa (já se disse que houve "guerras justas")
Acreditamos que juízes, em suas provas concursais, sejam também avaliados por quanto tempo conseguem atravancar um processo. Celeridade processual então... nem pensar!
Ah, se fôssemos contar todas as histórias de juízes iguais a esses, para os quais tivemos o desprazer de peticionar. Seriam páginas e páginas de histórias inacreditáveis. Os fóruns e tribunais, não poucas vezes, se transfiguram em verdadeiros circos de horrores. E estamos a mercê de pessoas que parecem ter se formado por correspondência na Faculdade da Injustiça.
Pensando bem, do jeito que a coisa anda, talvez tenha cusinho pra isso também. Telepresencial, é claro.
De repente falte o que fazer nos fóruns, as cadeiras já não sejam tão confortáveis, talvez ainda tenham cortado os jogos do computador, ou quem sabe ganhar dez contos por mês tenha tornado a vida dos ilustríssimos um tanto quanto monótona... Bom, se o problema for falta do que fazer, poderão ir lá em minha casa dar uma lavada nas janelas – afinal de contas, para mim, mera trabalhadora, pagar um profissional que faça a minha faxina já está saindo um pouco caro para o meu baixo orçamento.
Pelo menos lavando janelas, o único erro idiota que cometerão será deixá-las com manchas...
***
(A)MORAL DA HISTÓRIA
Um dia, os juízes serão sérios, os processos farão sentido e Kafka se mostrará errado.
Ou não.
Por Ana Cristina Rivelles e Juliano Torres
sexta-feira, 15 de maio de 2009
De quem são as ruas?
Decisões de orientação fascista (com fundamentos, no mínimo, frágeis e contrários a Constituição Brasileira) levaram à proibição da marcha da maconha, em nove cidades – Cuiabá, Curitiba, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, João Pessoa, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
“Diante dessa decisão judicial, se as pessoas insistirem, essa conduta vai caracterizar um crime de desobediência, essas pessoas terão que ser conduzidas para a delegacia, não seria uma outra ação, seria uma ação policial” – promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Maria Elda Fernandes Melo.
“Diante dessa decisão judicial, se as pessoas insistirem, essa conduta vai caracterizar um crime de desobediência, essas pessoas terão que ser conduzidas para a delegacia, não seria uma outra ação, seria uma ação policial” – promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Maria Elda Fernandes Melo.
"Polícia para quem precisa de polícia" – Arnaldo Antunes (Grifos nossos)
Neste cenário, o mês de Maio, ao contrário do que a nossa mitologia coletiva lembra ter acontecido há 41 anos atrás, foi tempo de uns dias tristes na História daquelas tais liberdades, conquistadas tão a ferro e a fogo - e ainda tão poucas quanto o pão, para muitos.
É importante frisar que esta discussão não engloba o uso ou não da maconha. Justamente por este motivo é que a questão é mais delicada do que parece. O fato do uso de maconha ser proibido em nosso país não impede que qualquer pessoa – ou muitas pessoas, todas ao mesmo tempo – questionem e discutam sobre o assunto.
Primeiramente a decisão fere o art. 5º, IX da CF:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
Neste cenário, o mês de Maio, ao contrário do que a nossa mitologia coletiva lembra ter acontecido há 41 anos atrás, foi tempo de uns dias tristes na História daquelas tais liberdades, conquistadas tão a ferro e a fogo - e ainda tão poucas quanto o pão, para muitos.
É importante frisar que esta discussão não engloba o uso ou não da maconha. Justamente por este motivo é que a questão é mais delicada do que parece. O fato do uso de maconha ser proibido em nosso país não impede que qualquer pessoa – ou muitas pessoas, todas ao mesmo tempo – questionem e discutam sobre o assunto.
Primeiramente a decisão fere o art. 5º, IX da CF:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
E isso deveria ser o bastante.
A decisão faz parecer que na marcha as pessoas iriam fumar maconha como se não fosse proibida. Talvez o que falte seja esclarecer que não se trata de um advento de “neo-woodstock” e nem se trata (felizmente ou não) de um ato anarquista, como afirmou o magistrado Pedro Luís Sanson Corat. E se o fosse, também não é livre a opção política?
Vedar a liberdade de expressão e retroceder à ditadura (pura e dura) não parece a melhor solução para o conflito – e nem deve ser ou parecer. A marcha pela legalização da maconha pode ser comparada à "Parada Gay", na qual as pessoas tão somente mostram e expõem suas opiniões e seus modos de ser; na primeira coloca-se em discussão se a maconha deve ou não ser legalizada e, na segunda, homossexuais expõem seu desejo de amar livremente. Será que em alguma das manifestações existem características anarquistas? E para tanto, pensa-se em colocar a polícia com seus cavalos perseguindo manifestantes, ou previamente, barrar direitos já (ao menos teoricamente) conquistados?
Sublinhe-se, expressar desejos, vontades e questionamentos e “comer criancinhas” são coisas completamente diferentes.
Já não se discute tanto, já não se pensa tanto, já não se fala de quase nada que possa alterar a gramática de outros ditos – e a tal da "esfera pública" se parece cada vez mais com um videogame antigo, os mesmos personagens e as mesmas ações repetindo-se nos mesmos cenários – e, não mais que de repente, quando surpreendemente alguém descobre a persistência de um tabu (Nossa! mas não tínhamos derrubados todos???), no dia seguinte ficamos sabendo que as tais "liberdades públicas", a depender de certas "otôridades" pseudo-doutorais, não valem uma pataca furada.
Caçavam bruxas no telhado em Gotham City, já profetizava Macalé; y que las hay, hay-las, mas fica a esperança de que ninguém espere a segunda vinda dos Torquemadas.
(Ana Cristina Rivelles e Juliano Torres)
Vedar a liberdade de expressão e retroceder à ditadura (pura e dura) não parece a melhor solução para o conflito – e nem deve ser ou parecer. A marcha pela legalização da maconha pode ser comparada à "Parada Gay", na qual as pessoas tão somente mostram e expõem suas opiniões e seus modos de ser; na primeira coloca-se em discussão se a maconha deve ou não ser legalizada e, na segunda, homossexuais expõem seu desejo de amar livremente. Será que em alguma das manifestações existem características anarquistas? E para tanto, pensa-se em colocar a polícia com seus cavalos perseguindo manifestantes, ou previamente, barrar direitos já (ao menos teoricamente) conquistados?
Sublinhe-se, expressar desejos, vontades e questionamentos e “comer criancinhas” são coisas completamente diferentes.
Já não se discute tanto, já não se pensa tanto, já não se fala de quase nada que possa alterar a gramática de outros ditos – e a tal da "esfera pública" se parece cada vez mais com um videogame antigo, os mesmos personagens e as mesmas ações repetindo-se nos mesmos cenários – e, não mais que de repente, quando surpreendemente alguém descobre a persistência de um tabu (Nossa! mas não tínhamos derrubados todos???), no dia seguinte ficamos sabendo que as tais "liberdades públicas", a depender de certas "otôridades" pseudo-doutorais, não valem uma pataca furada.
Caçavam bruxas no telhado em Gotham City, já profetizava Macalé; y que las hay, hay-las, mas fica a esperança de que ninguém espere a segunda vinda dos Torquemadas.
(Ana Cristina Rivelles e Juliano Torres)
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