Estendido no chão da sala de estar um corpo quase inanimado, inebriado de solidão.
O peito rasgado em sangue, a camisa a flor da pele amarelada. Seus pés em movimentos dançados e entrelaçados com a nostalgia da tarde que se finda no fundo de um copo quase vazio.
As xícaras estão frias e o chá que lá havia esfriou quase que totalmente. Uma luz clara toca a janela fechada e ninguém viu o sol naquelas últimas semanas.
No chão alguns livros abertos. Na vitrola um disco riscado e uma agulha quebrada. No sofá o cobertor cheirando a cigarro e vinho barato.
No mês passado havia duas taças – uma foi quebrada pela última pessoa distinta que por lá passou. A taça que sobrou guardou algumas poucas cinzas dos cigarros fumados e esquecidos desde então.
O despertador parece tocar, mas não há porquê acordar, não há para quem acordar. O quarto cinza guarda sapatos vermelhos de dois pés cinzentos que dançavam no portão. Não guarda lembranças de motivos de alegria. Não guarda nada que não seja o veneno que rasga o tempo escasso de outrora.
Na casa ao lado três pessoas comem pão com queijo, margarina e de lá vem o cheiro de café recém passado e bolo quente. Lá ninguém sabe que o corpo permanece estendido, rasgado, dolorido, com o peito aberto coberto de sangue e frustração.
Aquele corpo não possui família, amigos ou um número de telefone. Não, ele não possui nada e nada o possui. Nunca mais sentiu o peito arder em cores. Nunca mais sentiu a brisa das manhãs de verão. Nunca mais pensou em ter algo para fazer fora dali. Foi esquecido e esqueceu qualquer coisa que não seja sua própria embriaguez calada e acorrentada a mágoa que lhe envelheceu.
Por Ana Rivelles
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Solidão lhe toca a alma
Foi-se o tempo em que nada havia porta afora.
Foi-se o tempo dos sons de violão – música da melancolia nobre que iluminava as sarjetas por onde andavam.
Tudo se finda sem que ele perceba e ela se vai – pouco a pouco se vai.
Por Ana Rivelles
Foi-se o tempo dos sons de violão – música da melancolia nobre que iluminava as sarjetas por onde andavam.
Tudo se finda sem que ele perceba e ela se vai – pouco a pouco se vai.
Por Ana Rivelles
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
"Quando a última imobiliária explodir sobre os escombros do último banco, o mundo será um lugar decente"
Há dois meses recebemos a notícia de que a sala de nosso escritório foi vendida.
Iniciou-se a saga.
Como locar um imóvel em Curitiba?
Pois bem, o primeiro passo é entrar em todos os sites de imobiliárias possíveis. Após isto, há um link (nem sempre)para visualizar as fotos do tão sonhado seu espaço e entrar em contato com as ditas-cujas para dar início a burocracia.
Vocês tem fiador? Não.
Vocês tem um milhão de dólares? Hum... não.
A mãe de vocês pode ficar como garantia no caso de não pagarem o aluguel? Olha... acho que não, né.
Humm... Esses são os requisitos básicos para locar em Curitiba...
E a Lei de Locação serve pra que?
Art. 38. A caução poderá ser em bens móveis ou imóveis.
(...)
§ 2º A caução em dinheiro, que não poderá exceder o equivalente a três meses de aluguel, será depositada em caderneta de poupança, autorizada, pelo Poder Público e por ele regulamentada, revertendo em benefício do locatário todas as vantagens dela decorrentes por ocasião do levantamento da soma respectiva.
Até aí tudo certo. Conseguimos a caução no valor de três aluguéis e uma verdadeira santa que dospinibilizasse o nome para ser a Locatária. Porém, quando estávamos a um passo de assinar o contrato, recebemos mais uma doce surpresa: Garantir três meses de aluguel não é o suficiente. Precisa garantir DOZE/ UM ANO INTEIRO!
Pergunta: Moço, mas a Lei de Locação é clara nesse aspecto e vocês só podem pedir TRÊS meses de caução.
Resposta: Pois é... a Lei até diz isso, mas cada imobiliária faz como acha melhor.
Pergunta: Por que é necessário garantir um ano de aluguel, se no caso de não pagarmos podemos ser despejados em um mês?
Resposta: (Silêncio Total)
Pergunta: Você pode documentar isso através do nosso e-mail?
Resposta: Pra que?
Pergunta: Bem, como a lei não serve pra nada aí nesse espaço, queremos que tudo fique documentado...
Resposta: Ah, claro.
Permanecemos sentados esperando.
Por Ana Rivelles e Juliano Torres
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